
Alguns livros, pela eloquência dos dizeres e pela capacidade de tocar a alma humana, são aclamados e arquivados na memória do coração e poetas que, por deixarem arder o elevado de sua personalidade, se tornam imortais.
Se assim é, então orador e poeta é qualquer homem e mulher sensível ao espiritual, aberto ao sagrado e que deixa o roçar de Deus polir sua alma. Poetas são pessoas que se curvam diante da VIDA e com sua grandeza imaterial as melhoram.

Dizem que o Libanês, Kahlil Gibran foi o poeta que como ninguém expressou a alma do ser humano. Tinha o sentir refinado, certamente porque aprendeu a beber, apaziguado, as delicadezas de Deus, aqui e ali, semeadas. Se ele foi mais alto, foi porque descobriu que tinha asas e que sabia e podia voar, foi porque se enamorou do belo.
Kahlil Gibran quis lidar de perto com a VIDA. Por isso foi fotógrafo, pintor e, por fim, tornou-se um poeta para – no balancear das ideias – poder falar ao profundo das VIDAS.
O próprio Sol...

Nesse meu prosear, não quero refletir sobre a poesia primorosa de Kahlil e nem alongar-me falando sobre sua oratória fluente. Quero falar daquele que ficou na Eucaristia para dar vida ao mundo.
No Sacrário não está apenas Alguém beijado pelo sol, mas o próprio Sol. Não só um poeta significativo, dessedentado nas fontes de Deus; ali está Deus mesmo, preocupado e ocupado com a VIDA.
Discorrerei não sobre Kahlil Gibran, mas sobre Aquele que semeou poderosa e lindamente, pelo universo, a poesia que a alma de Kahlil bebeu, deslumbrada. Ater-me-ei em falar do POETA Jesus, desse forasteiro discreto que entra na VIDA de doutos e rudes, na de qualquer um que se abre ao belo, ao simples e ao grande escondido no pequeno.
Se um poeta sobrevive à ingratidão dos anos, é porque, um dia, se permitiu viver no mundo de Deus; é porque deixou o Grande adentrar-se em sua pequenez. Se ele é um cidadão do mundo, é porque aprendeu a andar de joelhos por sendas, montanhas e vales da VIDA. É porque permite que os raios vindos do altar queimem sua alma.
E por que Jesus no manancial da vida ainda não é totalmente Senhor do seu mundo interior? Por que a redenção que jorra copiosa dos tabernáculos ainda não jorra copiosa em todas as áreas de sua vida? Por que você tarda ir e a aprender do Deus da Eucaristia, que canta baixinho ao ouvido de cada homem: “Vós que estais aflitos vinde a mim! Sei socorrer”? Por que o Educador tão terno dos altares ainda não influenciou por inteiro seu jeito de viver? Por que aquele que faz de cada sacrário o olhar e o inclinar do Pai sobre o mundo, ainda não roubou para Ele o seu coração?
Ele não é só um poeta que expressa o melhor do ser humano. É Alguém que torna o ser humano melhor. Como ninguém Ele sabe moldar argila. E de tanto esbarrar com sua afável humanidade na humanidade de cada um de nós, tem nos sarado e sagrado.
Eucaristia:
o modo que Deus achou para ficar perto do ser humano

Ele ficou na Eucaristia para renovar nosso sangue, misturando o Seu ao nosso. Ficou para nos dizer que Deus, ainda hoje, na brisa de cada tarde, desce à procura de tantos “Adãos”, vítimas da indisciplina e escondidos nas roupagens do pecado. Fez-se Eucaristia para perpetuar a voz do Pai que chama do Egito seus filhos.
A Eucaristia não é uma mágica de um Deus e sim seu Milagre magno. Só Deus pode, dum jeito tão desusado, amar assim o homem. Só Deus sabe cuidar da VIDA com tal grandeza.
Ao percorrer estradas para socorrer a VIDA, seus pés foram feridos e penso que sua alma também o foi. Não tenho dúvidas de que suas lágrimas se misturaram àquela água que purificou pés e vidas no cenáculo. Qual é a grande Nação que tem um Deus tão grande como o nosso Deus?
Sua rendição cotidiana à Vontade do Pai foi esmigalhando o trigo. O zelo pela causa e coisas do Pai foi amoldando a Partícula para a consagração. Tudo seria estrofe e rima do mesmo poema, melodia do novo Cântico.
Antes d’Ele se esconder no Pão, sentou-se em praças, barcos e montanhas. Contou histórias lindas para dizer o quanto a VIDA vale, do ventre ao declinar. Mostrou como Deus cuida da VIDA no gesto do Bom Samaritano e no zelo do dedicado Pastor.
Desde aquela primeira quinta-feira santa da humanidade, em que Aquele orador-poeta ergueu pão e vinho na direção do céu, dando graças, nunca mais a VIDA em lágrimas ficou descuidada. Fez-se Eucaristia por se importar com quem sofre e com quem faz sofrer, com o que caminha chorando e com quem é culpado por esse ir assim.
A Eucaristia é o jeito que o divino inventou pra ficar perto do homem aceirado por tantos perigos, fragilizado por tantos vendavais, minado em sua coragem pelo afã tão impiedoso dos dias.
Você toca a Eucaristia.
A Eucaristia toca você?

O Bom Pelicano não sabendo fazer outra coisa a não ser cuidar, fez o invento que o imortalizou. Fez-se refém de tantas Sagradas Cadeias, crendo assim poder vincular, definitivamente, o homem ao sagrado. Foi seu cavalheirismo quem o fez descer, se inclinar e ajudar.
Por que Jesus na Eucaristia pode tanto? Porque Ele creu que fazendo-se pequeno assim, poderia purificar águas amargas. E que entrando dum jeito tão manso na sacralidade de cada homem poderia falar-lhe de coisas divinas e tornar o íntimo de Deus íntimo ao homem. Como não se emudecer diante desse mistério de VIDA? Como não estender a mão a esse doador?
Quero saber se essa VIDA, feita de versos tão diversos, inquieta seu jeito de viver. Quero saber se Ela interroga seus costumes e abala seus projetos. Quero saber se você já aprendeu a beber de joelhos dessa fonte e se já encontrou o CAMINHO que marcou caminhos com gotas de sangue e pedaços de VIDA.
Importa-me saber se aquela VIDA – derramada no duro flagelar, na sacra via e na cruz – tem branquejado suas vestes para as núpcias e se o tem preparado para o festim sobre o Monte!
Quero saber se tanto amor, tem rompido também suas tantas gaiolas e fortificado suas asas. Quero saber se tanto cuidado de Deus com sua VIDA tem lhe ajudado a escolher a VIDA! “Faze isto e viverás”!
Ir. Penha
Pequena Missionária de Maria Imaculada